sábado, 16 de outubro de 2010 | By: Vivian Mont'Alverne

Mar negro

Marily, meiga e brincalhona, encantava a todos. Apenas 10 primaveras, mas já dona de uma beleza incomum... Olhos acinzentados, mistura de noite e dia, circulados por inocência; sorriso impetuoso, covinhas arraigadas; fios soltos e levemente ondulados, nadando em tons de âmbar... Com o vento, viajava a essência das flores de laranjeira.


Tinha um apego imenso aos seus pais, um casal quarentão mas bem jovial, que vivia um amor sempre de flores e sol. Carinhosos e bastante atenciosos. Maly, como a chamavam, era o tesouro da casa... Cheia de mimos, porém educada.


Os Waller's,  Bowt e Suzy, eram seus padrinhos... Sendo ele irmão de Doke, pai da Marily. Estavam presentes nas datas especiais e alguns finais de semana. Tratavam a afilhada como princesa, enchendo-a de presentes e carinhos.


Doke e Stelly, mãe de Maly, precisaram fazer uma viagem para resolver uns problemas de suas terras. Tudo de última hora. A menina ficou na casa dos padrinhos, claro... Perto da conclusão do ano, não poderia perder as aulas.
Pegaram a estrada, chegando à cidadezinha na qual ficava uma de suas fazendas. Ligaram para avisar que tudo estava bem e que voltariam na manhã seguinte. (...) Na volta, um caminhão arrastara o carro para um abismo... Não resistiram.
A notícia chegara aos ouvidos de sua filha.
(...) Mar cinzento os seus olhos viraram, com ondas trovejantes e assíduas. Nada mais a fazia sorrir.


A guarda ficou com os padrinhos, que tentaram de todas as formas ajudá-la. (...) Umas semanas foram ficando para trás, e Marily voltou a viver.
Bowt, o padrinho, passara a ter uma admiração tão forte pela menina, que seus olhar estava carregado de uma aura negra, com desejos insalubres.
(...)
Numa tardezinha de quinta-feira, a doce Maly estudava, tranquila e concentrada, na mesinha do seu quarto...
Uma mão gelada e grossa lhe tocou os ombros. Assustada, virou para olhar quem poderia ser.
- Ah! É o senhor? Levei um susto, estava atenta aos livros.
Ele, sem pronunciar uma palavra e com o rosto flamejando, puxou-a da cadeira. Suas mãos acariciavam-a  de modo pecaminoso. Ela, paralisada. Lábios pálidos, respirando terror... Não conseguira tirar um som de sua garganta, um movimento de seu corpo.


Dali em diante, seus antigos olhos acinzentados, mistura de estrelas e sol, viraram um mar negro, circulados por medo e aflição.

13 bilhetes:

Juci Barros disse...

Nossa! Que post forte, mas bastante corajoso.
Beijos.

Anônimo disse...

Olá
Estou te seguindo
Me siga
bjs

Isa G. disse...

Nossa!!! você escreveu de uma forma que prende a atenção, mas que triste =/ bjosss

Anônimo disse...

Que beleza de texto , Vivian !


BjO Grande e um Lindo Domingo ...

Anônimo disse...

que história terrível!
escreve algo mais alegre.

me siga :*

Vivian Mont'Alverne disse...

Sei que é terrível... Mas não dá para falar de pedofilia com uma história alegre, não é? Um vez que é uma das coisas mais horrendas que existe.

Viviane, já tentei ir no seu blog, mas não abre.
Anônimo, dessa forma, não dá para seguí-lo, né? haha

Um beijo :*

gnomo verde disse...

pedofilia e triste, não tem como faze piada...

http://gnomo-verde.blogspot.com/, segue ai

aivilana disse...

Nossa, que bacana, Vivian!
Lembrei do meu post "Óh, benditas quitandas!".
É, realmente, é uma realidade para muitas crianças. Uma pena, muito triste saber e não conseguir mudar tudo isso! :(

beijos!

Denise Portes disse...

Gostei da forma como escreves, descreves e sustentas a intensidade nas letras.
Beijo
Denise

Nicelle Almeida disse...

Olá, minha flor.
Fico sempre mto feliz com as suas visitas em meu blog =)
Adorei o seu texto! Muito bem escrito, como sempre e com uma riqueza de detalhes maravilhosa.
É uma história triste, mas infelizmente é a realidade de muitas crianças. Existem mtas 'Marily' por aí.
Um beijão e ótima semana.
Te espero lá no blog ;)
www.nicellealmeida.blogspot.com

Nicelle Almeida disse...

Olá, minha flor.
Tem post novo lá no blog, te espero ;)
Um beijão!!!!!!
www.nicellealmeida.blogspot.com

Caroline Sampaio disse...

Infelizmente uma triste realidade!
É de dar ódio em qualquer um que tenha a mente um pouco sã.
Parabéns pela a otima narração!
Beijo

Anônimo disse...

"Anônimo: escreve algo mais alegre"????

A vida não é um conto de fadas!!!
Concordo plenamente com a Carol, é de dar ódio em qualquer um que tenha a mente um pouco sã!!
Eu não consegui parar de ler até terminar (como acontece com a maioria de seus textos) e fiquei com uma incrível vontade de GRITAR DE RAIVA no final...

E há quem ache a castração química (desculpe tratar disso aqui, mas não resisti) uma pena muito pesada!

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